03 dezembro 2006

Mad Love


Se encontraram no grupo de apoio, ela histriônica ele hebefrênico.
O que era um ritual irritante e problemático se tornou uma fonte de fugaz emoção “Ela vem hoje? O que vestirá?” pensava ele, enquanto enchia o copinho plástico de café amargo. “Ele é tão misterioso, o que será que ele tem? Quase nunca abre a boca... e que boca...” fantasiava ela enquanto descia do ônibus.
Uma noite, um dos participantes faleceu (suicidou-se na banheira de sua mãe, tinha 29) e o encontro foi adiado. Seus olhares cruzaram e as faíscas incendiaram um romance louco (e qual não é?).
Se viam toda semana, fazia chuva ou sol, eram loucos, duplamente loucos, e conforme seus corpos se moldavam, suas respectivas loucuras evoluíam, alimentavam-se, eram loucos, um pelo outro.
Contavam os minutos para o reencontro, suspiravam de saudade, ardiam de desejo, cometiam insanidades para se encontrar e se amavam loucamente.
Semana após semana a paixão aumentava, quase não conversavam, se encontravam em motéis de subúrbio, pouco falavam, pouco sabiam um do outro, mas sua linguagem corporal era sem igual.
Durante um ano se viram toda semana, sem falta, mesmo quando o pai dele morreu, mesmo quando ela quebrou o pé, a terapia foi deixada de lado, eles próprios eram suas curas e suas doenças.
Um dia ele não apareceu, ela esperou por quase duas horas antes de ligar, e ouvir sua voz na caixa postal, não deixou recado.
Alguns dias depois ela recebeu o pacote em sua casa, uma pequena embalagem de papelão, dentro um vidro com 40 comprimidos e o material publicitário impresso em um cartão verde “Caro amigo(a), você esta recebendo uma amostra grátis do medicamento que esta revolucionando o mundo da psiquiatria, SANUS, inteiramente grátis! Bem vindo(a) a revolução!”


OBS: Para ler ao som de Perfect do Smashing Pumpkims, como foi escrita...

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